terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Caminhos

Filhos Separados:
Eu, Teresa Oliveira, entrei na luta indenizatória há muito tempo atrás, no ano de 2002, quando descobri minha origem. Até setembro de 2002, eu não fazia a mínima idéia de quem eu era e quem leu meu livro "Nascidos Depois", lançado em 2013 com o patrocínio INTEGRAL da Fundação Paulista contra a Hanseníase (que está também patrocinando a 2a. edição) e que agradeço imensamente pela confiança depositada em meu trabalho, pode confirmar isso.
Na época, também, via buscas na internet, como a maioria de voces tem feito durante anos, conheci o MORHAN, que somente em 2006 manteve contato comigo, dada a minha insistência em desejar encontrar minha família biológica e fazer algo pelas injustiças que eu ia conhecendo no decorrer de minhas pesquisas. Portanto, os primeiros quatro anos, eu busquei sózinha respostas para tanta injustiça e barbáries. Já nesta época, a primeira coisa que me ocorreu, foi entrar com uma ação coletiva indenizatória, mas fui orientada a não fazê-lo.
E em novembro de 2009, fui chamada pelo MORHAN para coordenar com eles a questão dos filhos, que teve início em janeiro de 2010.
Meu primeiro contato com ex colônias foi em reunião dos filhos no Rio de Janeiro, no Curupaiti nesta época e a primeira filha separada como eu, que conheci, foi a Mirtes.
Eu e ela participamos da primeira reportagem no Jornal O Globo, contando nossas histórias e esta matéria foi o start para o Fantástico. O formulário que a maioria de voces preencheu como filho separado, foi feito com minha colaboração e por meio dele, Vilma, que era do MORHAN, me ajudou a encontrar minha irmã e o Fantástico fez nosso encontro, passando a matéria em 4 de abril de 2010.
E desta matéria, estava dado o passo mais importante da minha vida: me expor, expor minha família adotiva e biológica, com o ÚNICO objetivo: a indenização para todos nós.
Participei de muitas reuniões em Brasília; conheci muitas autoridades e até tirei fotos com elas.
Mas ao término de 2014, olhei para meu mural com estas fotos em meu escritório e me perguntei: e daí? Voce conseguiu seu objetivo? Afinal, a indenização já saiu?
Triste por dar tanto de mim e de certa forma me sentir usada sem resultar no objetivo inicial de tanta exposição, decidi sair do MORHAN e tentar, em um novo trabalho, permanecer na luta pelos atingidos pela Hanseníase, com projetos sociais pelo Brasil e fazer o que sei como Assistente Social, ou seja, projetos e executá-los. 
Mas... E a causa dos filhos?
Respeitando o movimento social que me recebeu, o MORHAN, ao criar o AHANSEN, deixei sempre claro que esta questão permanece com eles, porque eles tem, a princípio, todas as ferramentas necessárias para chegarmos à vitória.
Entretanto, como filha separada, agi por conta própria e provoquei o Ministério Público Federal a nos dar respostas, já que é esta a função do Ministério Público Federal: atender o cidadão quando este não consegue resolver seus problemas.
Alguns filhos separados fizeram o mesmo, mas deixo claro que é uma decisão pessoal, de cada um e não representa que eu esteja "representando" nenhum filho separado. Eu ME REPRESENTO. Ponto. E que cada um tome as rédeas de sua vida em suas mãos e se represente também. Cada um que sofreu com a separação, sabe da sua dor e NINGUÉM vai chorar por ela, a não ser voce. Então, cada um deve tomar a atitude que considerar correta. Se dará certo ou não, pelo menos tentamos.
Não tenho mais ilusões sobre este governo. Se a indenização sair, ficarei feliz, mas não agradecida, porque na verdade quem tem que agradecer alguém aqui, é o próprio governo, por termos oferecido a eles uma causa justa que, se reconhecida por eles, lhes dará visibilidades positivas.
Não temos que agradecer nada!
Eles precisam cumprir a parte deles e é assim que me posiciono daqui pra frente.
A estratégia de correr atrás de autoridades em eventos, como uma namorada que quer reatar o namoro que o namorado não quer mais, está definitivamente esquecida por mim. Eu não vou correr atrás de políticos para depois, em fotos, fazer de conta que sou muito íntima deles.
Eu não vou pedir audiências para discutir um assunto que já está SACRAMENTADO no Grupo de Trabalho feito em 2012.
Eu não vou aceitar intimidações, palavras sem nexo, acusações, falsos testemunhos, 
Que esteja BEM CLARO que acompanho cada palavra ou frase mal dita a meu respeito. Como também agradeço aqueles que me elogiam e me acompanham com dedicação. Há mais bônus do que ônus nisso, graças a Deus!
Entrei nesta luta por todos e permaneço nela por todos. Mas não desejo representar NINGUÉM, exceto eu mesma. Porque no final das contas, se voce fizer o mesmo que eu estou fazendo, de certa forma voce concorda comigo e então eu não preciso representar voce; voce se representa.
E que tomem outras pessoas para discutirem o certo ou errado das questões da indenização.
Hoje, sou uma filha separada, que é Assistente Social e que dirige uma instituição voltada para projetos sociais aos pacientes e ex pacientes de Hanseníase e Tuberculose. 
Hoje sou uma trabalhadora social, com a mesma garra de sempre para VENCER os obstáculos.
Mas não busco, como NUNCA busquei, holofotes.
Quero apenas que a indenização seja paga aos filhos separados porque é justo e já demorou muito para acontecer.
Abraços a todos.
Teresa Oliveira  


  

4 comentários:

  1. Maravilhoso concordo em Gênero , Número e Grau !!! e eu como filha separada também faço suas palavras as minhas querida Teresa Oliveira SHOW !!!!

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  2. sou de Recife,sou filha separada.Tivemos uma reuniao aqui e senti sua falta,mas recebi uma resposta vaga.os filhos nao estao satisfeitos com o trabalho do morhan pois ficam quase um ano sem noticias e quando chegam nao trazem nada concreto.estamos pensando em procurar este4 direito por outros meios,o que voce acha?

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  3. Parabéns pela sua força e coragem. Espero que sejas vitoriosa.
    Tomei a liberdade de lhe enviar um e-mail, espero que recebas.
    Att.
    Emerson Baía

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