quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Justiça, onde esconderam voce?

Não houve tempo para nada.
Simplesmente trocaram o nosso berço, a nossa casa, família e até bens materiais, por preventórios e educandários ou por familiares que nos queriam ver longe dali.
Bastou uma lei; umas três ou quatro linhas, para definirem nossas vidas e mancharem de vergonha e humilhação uns milhares de brasileirinhos, indefesos, jogados em mãos desconhecidas, levados em cestos ou em caixas de sabão mesmo, para locais de onde sairiam, sem direito a perguntas, na maioridade, para a rua.
E como não tivemos o beijo de nossa mãe no primeiro dia de aula; o bolinho de aniversário com o carinho da família, também não tivemos tempo para seguir ideologias, sair às ruas pelo fim da ditadura, empunhar bandeiras ou até armas.
Não. Nós ficamos mesmo nas ruas ou em casas de desconhecidos, que nos "pegavam aos montes" de dentro dos preventórios e nos faziam de escravos, permanecendo na escuridão da ausência de respostas, da incompreensão de uma orfandade sem justificativa. E aquele governo fazia de conta que não sabia disso.
Alguns de nós foram apresentados a seus pais, mas nunca puderam conviver como uma família, porque o início de tudo isso, no nascimento, havia despedaçado, de vez, qualquer proximidade.
Cada filho separado sobreviveu como pode e como deu.
Repito: não empunhamos bandeiras ou armas. Estávamos nas ruas deste país sim, mas em busca da sobrevivência, de matar a fome, a sede, o frio ou o calor; de ter uma troca de roupa ou um cantinho para se abrigar.
Os abusos sexuais e as torturas que sofremos, não foram cometidas por soldados do exército, por generais da época, mas por aqueles que eram pagos pelo governo, para nos tutelar. Não tutelaram: fizeram de muitos de nós uma mercadoria fácil, de consumo rápido. Portanto, no nosso caso, não houve anistia também.
Até hoje, muitos de nós não sabem quem foram seus pais, onde de fato estiveram durante a infância, como chegaram até aqui. E isso dói. Isso sangra e machuca.
Agora, a dor está se transformando em revolta. E não porque optamos por ela, mas sim pela mão estendida que o governo acenou em 2010, 2011, 2012 e 2013..... E foi "acenando", mas  resolvendo outras injustiças sociais que não foram a nossa, como se ainda estivéssemos dentro dos preventórios e ninguém fosse ouvir o nosso clamor; como se fôsssemos presos políticos da ditadura, em porões abafados, onde ninguém imagina que estamos.
Cuidado! Não estamos lutando pelo passe livre, pelos rolezinhos, pelo "lazer", pelo bolsa família.
Hoje uma grande parcela da sociedade conhece a nossa história e a mídia está sacramentada via internet, sem meios de ser apagada cada história que foi revelada ali. 
Hoje o mes de janeiro de 2014 chega no seu último dia e este é o meu último dia de silêncio.
Não vou dar sossego; não vou parar de correr atrás desta justiça; não vou aceitar qualquer coisa; ninguém vai conseguir me convencer de que existem assuntos mais importantes do que o meu: A INDENIZAÇÃO DOS FILHOS SEPARADOS PELO ISOLAMENTO COMPULSÓRIO!!!
Me sinto responsável por cada história de sofrimento que ouvi até hoje. Se o governo não se sente responsável, vou fazer com que se sintam, pelo menos, na obrigação de cumprir com a palavra dada e empenhada. Não quero saber sobre o orçamento da união, sobre os projetos do futuro.
Quero resposta para esta injustiça do passado!! Sem ela, que futuro existirá?
Cada filho separado luta como pode e como entende ser melhor lutar.
Eu luto com a força que me sustenta durante estes anos e vou continuar a lutar. Acho mesmo que cada filho separado tem todo o direito do mundo de agir por sí se quiser, mas que façamos como fizemos até hoje: sem empunhar bandeiras ou armas. A nossa determinação interior e união, fará a verdade prevalecer.
Começo fevereiro indo em busca de respostas e vou me empenhar para que elas existam de fato e evitem o caos que podemos fazer, nesta altura de nossas vidas, com bandeiras nas mãos.
Não sou e NUNCA serei "peça de manobra" de ninguém. Estou nesta luta porque sou filha separada também e reconheço que precisamos de justiça, exatamente aquilo que pensaram que, para nós, não seria tão necessário.
Teresa Oliveira
(ex interna da Associação Santa Terezinha sim; comprovado pelo meu prontuário)  

9 comentários:

  1. Toda esta demora, é porque os pais dos filhos separados estão ganhando pensão.

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    1. Anonymous não entendi a sua colocação, como assim? Helena Bueno

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    2. Oi bom dia! Porque no governo lula ele ñ deixou nenhuma continuidade para emenda na lei para os filhos e no discurso ele fala que os pais foram obrigados a se separarem dos seus filhos e só estão ganhando a pensão os pais que estavam se tratando da hanseniase. Deveriam na época terem exigido uma brecha na lei. Entendo que o PT ajudou a começar esta repaçao justa, mais ñ só o pt tem o poder , porque os ministérios são vários partidos, ouvi em uma certa reunião que alguns filhos que estão em tratamento ja estão ganhando pensão, mas ñ acreditei porque a lei que saiu foram para os pais, ha ñ ser que os filhos que são pais estejam ganhando!!
      Admiro a luta da Tereza, Custódio e todos vcs e tenho certeza que em breve esta luta terá um fim saindo uma lei normativa para os filhos.
      Enfim é muito complexo a entender.
      Sorte a todos.

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    3. Olá Anonymous, sei que a lei 11.520 foi aprovada para quem ficou nas Colônias, mas não sei qual o critério que foi adotado para o Lula assinar esta lei. Quanto aos filhos, acredito que a Presidente Dilma Rousseff adote o mesmo critério do Lula. Você tem razão, realmente, é muito complexo a entender. Obrigada pela energias positivas...logo seremos vencedores, se Deus quiser, e Ele quer. Abraços Fraternos. Helena Bueno.

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  2. A Teresa tem todo o direito de cobrar sim, sendo que os demais deveria fazer o mesmo,e foi dado uma esperança ao grupo do MORHAN

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  3. a bem da verdade, em 14 de agosto de 2013 foi + que uma esperança: Gilberto Carvalho disse que Dilma iria assinar. Só não disse quando...rsrsrs

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  4. Na hora de tirar o chapéu, vem fadando qualquer coisa para as pessoas, a gente acaba acreditando até um momento e depois que virou a costa fica por isto, vamos a luta. a esperança é a ultima que morre,

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  5. Dilma recebe MST e promete assentar 30 mil famílias em 2014
    Previsão da presidente é apresentada durante reunião com lideranças do movimento no dia seguinte a protesto ocorrido em Brasília; movimento cobrou agilidade e assentamento para 100 mil famílias

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  6. O descaso continua e as promessas também. Não me admiro muito essa lentidão por parte dos nossos governantes e principalmente pela presidente Dilma,logo ela quem passou por dores e sofrimentos da ditadura,época essa marcada para toda a sua vida. Sendo assim,ela teria que se colocar,se compadecer,se colocar no lugar de cada filho separado e perceber que cada um carrega também uma dor que permanecerá por toda uma vida. Uma indenização trata-se tão somente de uma retratação por parte do Governo e é o mínimo que se pode fazer quando alguém muda a sua vida .

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